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O processo de pesquisa é habitualmente iniciado por um conjunto de questionamentos que definem um determinado campo e dimensões de observação, muitas vezes associados a hipóteses que são previamente colocadas sobre a realidade em estudo. No entanto, no decorrer do trabalho empírico, os investigadores deparam-se frequentemente com dados surpreendentes e inesperados, ou seja, com factos que não eram inicialmente procurados. Em sociologia, Robert K. Merton (1970: 173) designou estas “surpresas” por serendipidade: “a descoberta, por casualidade ou por sagacidade, de resultados válidos que não eram procurados”. O autor reporta-se, em particular, à observação de dados:

  • Imprevistos: no sentido em que podem emergir temas que inicialmente não se previa observar e/ou trabalhar;

  • Anómalos: por contrastarem com o conhecimento já produzido sobre a problemática;

  • Estratégicos: porque têm implicações na ampliação da teoria e na construção de novas abordagens.

O reconhecimento da importância da serendipidade na investigação sociológica permite tornar o processo de pesquisa mais aberto e dinâmico, fomentando o diálogo e a permanente troca entre teorias de partida, dados empíricos e construção de nova teoria.

Analisar aprofundadamente o entrecruzamento de eventos de membros de uma mesma família, nomeadamente os quatro tipos de impacto (longitudinal, bi-vinculado, extra-vinculado, intra-vinculado) implica ter a capacidade de reconhecer temas emergentes, fazer sentido de dados que pareçam incongruentes e ser teoricamente sensível à ampliação de conceitos no “descobrimento do universal no particular” (Merton, 1970: 174).
 

Referência:

Merton, Robert K. (1970), Sociologia: Teoria e Estrutura, São Paulo, Editora Mestre Jou.

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